Branca de Neve e os Sete Anões


Ilustração: Bess Livings (1930)
Outras ilustrações: http://estoriastradicionais.multiply.com/photos/album/3
(Coletada pelos Irmãos Grimm)

Há muito, muito tempo mesmo, no coração do inverno, enquanto flocos de neve caíam do céu como fina plumagem, uma rainha, nobre e bela, estava ao pé de uma janela aberta, cuja moldura era de ébano.
Bordava e, de quando em quando, olhava os flocos caindo maciamente; picou o dedo com a agulha e três gotas de sangue purpurino caíram na neve, produzindo um efeito tão lindo, o branco manchado de vermelho e realçado pela negra moldura da janela, que a rainha suspirou. e disse consigo mesma:
“Quem me dera ter uma filha tão alva como a neve, carminada como o sangue e cujo rosto fosse emoldurado de preto como o ébano!”
Algum tempo depois, teve uma filhinha cuja tez era tão alva como a neve, carminada como o sangue e os cabelos negros como o ébano. Chamaram à menina de Branca de Neve; mas, ao nascer a criança, a rainha faleceu.
Decorrido o ano de luto, o rei casou-se em segundas núpcias, com uma princesa de grande beleza, mas extremamente orgulhosa e despótica; ela não podia suportar a idéia de que alguém a sobrepujasse em beleza. Possuía um espelho mágico, no qual se mirava e admirava frequentemente.
E então, dizia:
- Espelhinho, meu espelhinho, Responde-me com franqueza: Qual a mulher mais bela de toda a redondeza?
O espelho respondia: - É Vossa Realeza a mulher mais bela desta redondeza.
Ela, então, sentia-se feliz, porque sabia que o espelho só podia dizer a pura verdade. No entanto, Branca de Neve crescia e aumentava em beleza e graça; aos sete anos de idade era tão linda como a luz do dia e muito mais que a rainha.
Um dia a rainha, sua madrasta, consultou como de costume o espelho.
- Espelhinho, meu espelhinho, responde-mo com franqueza: Qual a mulher mais bela de toda a redondeza?
O espelho respondeu:
- Real senhora, sois aqui a mais bela, Porém Branca de Neve é de vós ainda mais bela!
A rainha estremeceu e ficou verde de ciúmes. E daí, então, cada vez que via Branca de Neve, por todos adorada pela sua gentileza,. seu coração tinha verdadeiros sobressaltos de raiva.
- Sua inveja e seus ciúmes desenvolviam-se qual erva daninha, não lhe dando mais sossego, nem de dia, nem de noite.
Enfim, já não podendo mais, mandou chamar um caçador e disse-lhe:
- Leva essa menina para a floresta, não quero mais tornar a vê-la; leva-a como puderes para a floresta, onde tens de matá-la; traze-me, porém, o coração e o fígado como prova de sua morte.
O caçador obedeceu. Levou a menina para a floresta, sob pretexto de lhe mostrar os veados e corças que lá haviam. Mas, quando desembainhou o facão para enterrá-lo no coraçãozinho puro e inocente, ela desatou a chorar, implorando:
- Ah, querido caçador, deixa-me viver! Prometo ficar na floresta, e nunca mais voltar ao castelo; assim, quem te mandou matar-me, nunca saberá que me poupaste a vida.
Era tão linda e meiga que o caçador, que não era mau homem, apiedou-se dela e disse: Pois bem, fica na floresta, mas livra-te de sair Ia, porque a morte seria certa. E, em seu íntimo, ia pensando: “Nada arrisco, pois os animais ferozes vão devorá-la em breve e a vontade da rainha será satisfeita, sem que, eu seja obrigado a suportar o peso de um feio crime”.
Justamente nesse momento passou correndo um veadinho; o caçador. matou-o, tirou-lhe o coração e o fígado e levou-os à rainha como se fossem de Branca de Neve.
O cozinheiro foi incumbido de prepará-los e cozê-los; e, no seu rancor feroz, a rainha comeu-os com alegria desumana,. certa de estar comendo o que pertencera, a Branca.,. de Neve...
Durante esse tempo a pobre menina, que ficara abandonada na floresta, vagava trêmula de medo, sem saber, que fazer. Tudo a assustava, o ruído da brisa, uma folha que caía, enfim, tudo produzia nela um terrível pavor.
Ouvindo o uivar dos lobos, pôs-se a correr cheia de terror; os pezinhos delicados, feriam-se nas pedras pontiagudas e estava toda arranhada pelos espinhos.
Passou ao pé de muitos animais ferozes., mas estes não lhe fizeram mal algum.
Enfim, à noitinha, cansada e ofegante, encontrou-se diante de uma linda casinha situada no meio de uma clareira. Entrou, mas não viu ninguém.
Contudo, a casa devia ser habitada, pois notou que tudo estava muito asseado e arrumadinho, dando gosto de se ver.
Numa graciosa mesa coberta com uma fina e alva toalha, achavam-se postos. sete pratinhos, sete colherinha e sete garfinhos, sete faquinhas e sete copinhos, tudo perfeitamente em ordem.
No quarto ao lado, viu sete caminhas uma junto da outra, com seus lençóis tão alvos.
Branca de Neve, que morria de fome e sede, aventurou-se a comer um pouquinho do que estava servido em cada pratinho, mas, não querendo privar nem um só dono de seu alimento, tirou somente um bocadinho de cada. e bebeu apenas um golinho do vinho de cada um.
Depois, não aguentando cansaço, foi deitar-se numa caminha, mas a primeira era curta demais, a segunda muito estreita, experimentando-as todas até que a sétima tinha a medida justa. Então fez sua oração, encomendou-se a Deus e em breve adormeceu profundamente.
Ao anoitecer chegaram os donos da casa; eram os sete anões, que trabalhavam durante o dia na escavação de minério na montanha.
Cada qual acendeu uma lanterninha e, quando a casa se iluminou, viram que alguém entrara em sua casa, porque não estava tudo na ordem perfeita conforme haviam deixado ao sair.
Sentaram-se à mesa, e, então, disse o primeiro:
- Quem mexeu na minha cadeirinha?
O segundo: - Quem, comeu do meu pratinho?
O terceiro: - Quem tocou no meu pãozinho?
O quarto: - Quem usou o meu garfinho?
O quinto: - Quem tirou um pouco da minha verdurinha?
O sexto: - Quem cortou com a minha faquinha?
E o sétimo: - Quem bebeu do meu copinho?
Depois da refeição, foram para o quarto; notaram logo as caminhas amassadas; o primeiro reclamou:
- Quem deitou na minha caminha?
- E na minha?
- E na minha? - gritaram os outros, cada qual examinando a própria cama.
Enfim, o sétimo descobriu Branca de Neve dormindo a sono solto na sua caminha.
Correram todos com suas lanterninhas e cheios de admiração exclamaram:
- Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! que encantadora e linda menina!
Sentiam-se tão transportados de alegria, que não quiseram acordá-la e deixaram-na dormir tranquilamente.
O sétimo anão dormiu uma hora com cada um de seus companheiros; e assim passou a noite.
No dia seguinte, quando Branca de Neve acordou e levantou-se, ficou muito assustada ao ver os sete anões.
Mas eles sorriram-lhe e perguntaram com a maior amabilidade:
- Como te chamas? - Chamo-me Branca de Neve, respondeu ela. - Como vieste aqui à nossa casa?
Ela contou-lhes como sua madrasta mandara matá-la e como o caçador lhe permitira que vivesse na floresta.
Após ter corrido o dia todo chegara aí e, vendo a linda casinha, entrara para descansar um pouco.
Os anões perguntaram-lhe:
- Queres ficar conosco? Aqui não te faltará nada, só tens que cuidar da casa, fazer nossa comida, lavar e passar nossa roupa, coser, tecer nossas meias e manter tudo muito limpo e em ordem; mas; quando tiveres acabado o teu trabalho, serás a nossa rainha.
- Sim, anuiu a menina - ficarei convosco de todo o coração!
E ficou morando com eles, procurando manter tudo sempre em ordem. Pela manhã, eles partiam para as cavernas em busca- de ouro e minérios e, à noite, quando voltavam, todos jantavam juntos muito alegres.
Como a menina ficava só durante ó dia, os anões advertiram-na que se acautelasse:
- Toma cuidado com a tua madrasta; não tardará a saber onde estás, por isso, durante nossa ausência, não deixes entrar ninguém aqui.
A rainha, entretanto, certa de ter comido o fígado e o coração de Branca de Neve, vivia despreocupada, ela pensava, satisfeita, que era, novamente, a primeira e mais bela mulher do reino.
Certo dia, porém, teve a fantasia de consultar o espelho, e certa de que lhe responderia não ter mais nenhuma rival em beldade. Assim mesmo disse:
- Espelhinho, meu espelhinho, Responde-mo com franqueza:
Qual a mulher mais bela de toda a redondeza?
Imaginem o seu furor quando o espelho respondeu:
- Real senhora, do país sois a mais formosa. Mas Branca de Neve, que por trás dos montes vive e em casa dos sete anões, é de vós mil vezes mais formosa!
A rainha ficou furiosa, pois sabia que o espelho não podia mentir. Percebeu, assim, que o caçador a enganara e que Branca de Neve continuava a viver.
Novamente devorada pelo ciúme e pela inveja, só pensava na maneira de suprimi-la encontrando algum alívio só quando julgou ter ao alcance o meio desejado.
Pensou, pensou, pensou, depois tingiu o rosto e disfarçou-se em velha vendedora de quinquilharias, de maneira perfeitamente irreconhecível.
Assim disfarçada, transpôs as sete montanhas e foi à casa dos sete anões; chegando lá, bateu à porta e gritou:
- Belas coisas para vender, belas coisas; quem quer comprar?
Branca de Neve, que estava no primeiro andar e se aborrecia por ficar sozinha todo o santo dia, abriu a janela e perguntou-lhe o que tinha para vender.
- Oh! coisas lindíssimas, - respondeu a velha – olhe este fino e elegante cinto.
A o mesmo tempo, mostrava um cinto de cetim cor de rosa, todo recamado de seda multicor. “Esta boa mulher posso deixar entrar sem perigo”, calculou Branca de Neve; então desceu, puxou o ferrolho e comprou o cinto.
Mas a velha disse-lhe: - Tu não sabes abotoá-lo! Vem, por esta vez, eu te ajudarei a fazê-lo, como se deve.
A menina postou-se confiante na frente da velha, deixando que lhe abotoasse o cinto; então a cruel inimiga, mais que depressa, apertou-o com tanta força, que a menina perdeu a respiração e caiu desacordada no chão.
- Ah, ah! - exclamou a rainha, muito contente – Já foste a mais bela! E fugiu rapidamente, voltando ao castelo.
Felizmente, os anões, nesse dia, tendo terminado o trabalho mais cedo que de costume, voltaram logo para casa.
E qual não foi seu susto ao verem a querida Branca de Neve estendida no chão, rígida como se estivesse morta! Ergueram-na e viram que o cinto apertava demais sua cinturinha. Logo o desabotoaram e ela começou a respirar levemente e, pouco a pouco, voltou a si e pôde contar o que sucedera.
Os anões disseram-lhe:
- Foste muito imprudente; aquela velha era, sem dúvida, a tua horrível madrasta. Portanto, no futuro, tenha mais cuidado, não deixes entrar mais ninguém quando não estivermos em casa.
- A pérfida rainha, logo que chegou ao castelo, correu ao espelho, esperando, enfim, ouvi-lo proclamar a sua absoluta beleza, o que para ela soava mais deliciosamente que tudo, e perguntou:
- Espelhinho, meu espelhinho, Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela de toda a redondeza?
Como da outra vez, o espelho respondeu:
- Real senhora, do país sois a mais formosa. Mas Branca de Neve, que por trás dos montes vive o em casa dos sete anões... é de vós mil vezes mais formosa!
A essas palavras a rainha sentiu o sangue gelar-se-lhe nas veias; empalideceu de inveja e, depois, torcendo-se de raiva, compreendeu que a rival ainda estava viva. Pensou, novamente, num meio de perder a inocente, causa de seu rancor.
“Ah, desta vez hei de arranjar alguma coisa que será a tua ruína!”
E, como entendia de bruxedos, pegou num magnífico pente. cravejado de pérolas e besuntou-lhe os dentes com o veneno feito por ela própria.
Depois, disfarçando-se de outro modo, dirigiu-se para a casa dos sete anões; aí bateu à porta, gritando:
- Belas coisas para vender! coisas bonitas e baratas; quem quer - comprar? Branca de Neve abriu a janela e disse: - Podeis seguir vosso caminho boa mulher; eu não posso abrir a ninguém.
- Mas olhar, apenas, não te será proibido! - disse a velha - Olha este pente. cravejado de pérolas e digno de uma princesa. Pega nele e admira de perto, nada pagarás por isso!
Branca de Neve. deixou-se tentar pelo brilho das pérolas; depois de o ter bem examinado, quis comprá-lo e abriu a porta à velha, que lhe disse:
- Espera, vou ajudar você e a pôr o pente nos teus lindos e sedosos cabelos, para que estejas bem adornada.
A pobre menina, sem saber, deixou-a fazer; a velha enterrou-lhe o pente com violência; mal os dentes tocaram na pele, Branca de Neve caiu morta sob a ação do veneno.
A rainha maldosa resmungou satisfeita:
- Enfim bem morta, Flor de Beleza! - Agora tudo se acabou para ti! Adeus!- exclamou, a rainha, soltando uma gargalhada medonha. e apressando-se a regressar ao castelo.
Já estava anoitecendo e os anões não tardaram a chegar. Quando viram Branca de Neve estendida no chão, desacordada, logo adivinharam nisso a mão da madrasta. Procuraram o que lhe poderia ter feito e encontraram o pente envenenado. Assim que o tiraram da cabeça, a menina voltou a si e pôde contar o que sucedera. Novamente a preveniram que tomasse cuidado e não abrisse a porta, dizendo:
- Foi ainda a tua madrasta quem te pregou essa peça. Preciso que nos prometas que nunca mais. abrirás a porta, seja lá a quem for. Branca de Neve prometeu tudo o que os anões lhe pediram.
Apenas de volta ao castelo, a rainha correu a pegar no espelho e perguntou:
- Espelhinho, meu espelhinho, Responde-me com franqueza:
Qual- a mulher mais bela de toda a redondeza?
Mas a resposta foi como das vezes anteriores. O espelho repetiu:
- Real senhora, do pais sois a mais formosa, Mas Branca de Neve, que por trás dos montes vive e em casa dos sete anões, é de vós mil vezes mais formosa!
Ao ouvir tais palavras, ela teve um assomo de ódio, grito a raiva malvada:
- Hás de morrer, criatura miserável, ainda que eu tenha que o pagar com minha vida!
Levou vários dias consultando todos os livros de bruxaria; finalmente fechou-se num quarto, ciosamente oculto, onde jamais entrava alma viva e aí preparou uma maçã, impregnando-a de veneno mortífero.
Por fora era mesmo tentadora, branca e vermelha, e com um perfume tão delicioso que despertava a gula de qualquer um; mas, quem provasse um pedacinho, teria morte infalível.
Tendo assim preparado a maçã, pintou o rosto e disfarçou-se em camponesa e como tal encaminhou-se, transpondo as sete montanhas e indo bater à casa dos sete anões. Branca de Neve saiu à janela e disse:
- Vai embora, boa mulher, não posso abrir a ninguém; os sete anões proibiram.
- Não preciso entrar, - respondeu a falsa camponesa - podes ver as maçãs pela janela, se as quiseres comprar. Eu venderei alhures minhas maçãs, mas quero dar-te esta de presente. Vê como ela é magnífica! Seu perfume embalsama o ar. - Prova um pedacinho, estou certa de que a acharás deliciosa!
- Não, não, - respondeu Branca de Neve - não me atrevo a aceitar.
- Receias, acaso, que esteja envenenada? - disse a mulher - Olha, vou comer a metade da maçã e tu depois poderás comer o resto para veres que deliciosa é ela.
Cortou a maçã e pôs-se a comer a parte mais tenra pois a maçã havia sido habilmente preparada, de maneira que o veneno estava todo concentrado na cor vermelha.
Branca de Neve, tranquilizada, olhava cobiçosamente para a linda maçã e, quando viu a camponesa mastigar a sua metade, não resistiu, estendeu a mão e pegou a parte envenenada. Apenas lhe deu a primeira dentada, caiu no chão, sem vida.
Então a pérfida madrasta contemplou-a com ar feroz.
Depois, - saltando e rindo com uma alegria infernal, exclamou:
- Branca como a neve, rosada como o sangue e preta como o ébano! Enfim, morta, morta, criatura atormentadora!
Desta vez nem todos os anões do mundo poderão despertar-te!
Apressou-se a voltar ao castelo; mal chegou, dirigiu-se ao espelho e perguntou:
- Espelhinho, meu espelhinho, Responde-me com franqueza: Qual a mulher mais bela de toda a redondeza?
Desta vez o espelho respondeu:
- De toda a redondeza agora, Real senhora, sois vós a mais formosa!
Sentiu-se transportada de júbilo e seu coração tranquilizou-se, enfim, tanto quanto é possível a um coração invejoso e mau.
Os anões, regressando à noitinha; encontraram Branca de Neve estendida no chão, morta. Levantaram-na e procuraram, em vão, o que pudera causar-lhe a morte; desabotoaram-lhe o vestido, pentearam-lhe o cabelo. Lavaram-na com água e vinho, mas tudo foi inútil: a menina estava realmente morta.
Então, colocaram-na num esquife é choraram durante três dias. Depois cuidaram de enterrá-la, porém ela conservava as cores frescas e rosadas como se estivesse dormindo. Eles então disseram:
- Não, não podemos enterrá-la na terra preta.
Fabricaram um esquife de cristal para que fosse visível de todos os lados e gravaram - na tampa, com letras de ouro o seu nome e sua origem real; colocaram-na dentro e levaram-na para o cume da montanha vizinha, onde ficou exposta, e cada um por sua vez ficava ao pé dele para a guardar contra os animais ferozes.
Mas podiam dispensar-se disso; os animais, todos da floresta, até mesmo os abutres, os lobos, os ursos, os esquilos e pombinhas, vinham chorar ao pé da inocente Branca de Neve.
Muitos anos passou Branca de Neve dentro do esquife, sem apodrecer; parecia estar dormindo, pois sua tez era ainda como a desejara a mãe: branca como a Neve, rosada como o sangue e os longos cabelos pretos como ébano; não tinha o mais leve sinal de morte.
Um belo dia, um jovem príncipe, filho de um poderoso rei, tendo-se extraviado durante a caça na floresta, chegou à montanha onde Branca de Neve repousava dentro de, seu esquife de cristal. Viu-a e ficou deslumbrado com tanta beleza, leu o que estava gravado em letras de ouro e não mais a esqueceu.
Pernoitando em casa dos anões disse-lhes:
- Dai-me esse esquife; eu vos darei todos os meus tesouros para poder levá-lo ao meu castelo. Mas os anões responderam:
- Não; não cedemos a nossa querida filha nem por todo o ouro do mundo. O príncipe caiu em profunda tristeza e permaneceu extasiado na contemplação da beleza tão pura de Branca de Neve; tornou a pedir aos anões:
- Fazei-me presente dele, pois já não posso mais viver sem a ter diante de meus olhos; quero dar-lhe as honras que só se prestam ao ser mais amado neste mundo.
Ao ouvirem essas palavras, e vendo a grande tristeza do príncipe, os anões compadeceram-se dele e deram-lhe Branca de Neve, certos de que ele não deixaria de colocá-la na sala de honra do seu castelo.
O príncipe tendo encontrado seus criados, mandou que pegassem no caixão e o carregassem nos ombros.
Aconteceu, porém, que um dos criados tropeçou numa raiz de árvore e, com o solavanco, pulou da boca meio aberta o bocadinho de maça que ela mordera mas não engolira.
Então Branca de Neve reanimou-se; respirou profundamente, abriu os olhos, levantou a tampa do esquife e sentou-se: estava viva.
- Meu Deus, onde estou? - exclamou ela.
O príncipe, radiante de alegria, disse-lhe:
- Estás comigo. Agora acabaram todos os teus tormentos, bela garota; a mais preciosa que tudo quanto há no mundo; vamos ao castelo de meu pai, que é um grande e poderoso rei, e serás a minha esposa bem amada.
Como o príncipe era encantador e muito gentil, Branca de Neve aceitou-lhe a mão. O rei muito satisfeito com a escolha do filho, mandou preparar tudo para umas núpcias suntuosas.
Para a festa, além dos anões, foi convidada também a rainha que, ignorando quem era a noiva, vestiu os seus mais ricos trajes, pensando eclipsar todas as damas e donzelas. Depois de vestida, foi contemplar-se no espelho, certa de ouvir proclamar sua beleza triunfante. Perguntou:
- Espelhinho, meu espelhinho, Responde-me com franqueza:
Qual a mulher mais bela de toda a redondeza?
Qual não foi seu espanto ao ouvi-lo responder:
- Real senhora, de todas aqui solo a mais bela agora, Mas a noiva do filho do rei, é de vós mil vezes mais formosa!
A perversa mulher soltou uma imprecação e ficou tão exasperada que não podia controlar-se e não queria mais ir à festa. Entretanto, como a inveja não lhe dava tréguas, sentiu-se arrastada a ver a jovem rainha. Quando fez a entrada no castelo, perante a corte reunida, Branca de Neve logo reconheceu sua madrasta e quase desmaiou de susto.
A horrível mulher fitava-a como uma serpente ao fascinar um passarinho. Mas sobre o braseiro já estavam prontos um par de sapatos de ferro, que haviam ficado a esquentar em ponto de brasa; os anões apoderaram-se dela e, calçando-lhe à força aqueles sapatos quentes como fogo, obrigaram-na a dançar, a dançar, a dançar, até cair morta no chão.
Em seguida, realizou-se a festa com um esplendor jamais visto sobre a terra, e todos, grandes e pequenos, ficaram profundamente alegres.

Outra versão em português arcaico, adaptada dos Contos para a infância, de Guerra Junqueiro-Lisboa,1877

Era uma vez uma rainha, que se lastimava por não ter filhos. Um dia d'inverno, emquanto bordava olhava de vez em quando pela moldura de d'ébano da janella*, para ver cair os flocos de neve no chão, distrahida, picou-se n'um dedo e saiu uma gota de sangue.
-Como eu desejaria ter uma filha, que tivesse uns beiços tão vermelhos como este sangue, uma pelle branca como esta neve, e uns cabellos negros como este ébano.»
Algum tempo depois os seus desejos realisaram-se, e deu á luz uma filha,que tinha uma linda boca vermelha, cabellos negros e o corpo tão branco,que lhe chamavam Branca de Neve. Porém esta feliz mãe não gozou muito, tempo da sua felicidade. Morreu, e o rei tornou a casar com uma mulher d'uma grande belleza, e d'um orgulho não menos extraordinario. Era tão formosa que se considerava a mulher mais perfeita do universo. Algumas vezes fechava-se no seu quarto, e collocando-se diante d'um espelho magico dizia-lhe:
-Meu fiel espelho, responde-me: qual é a mulher mais linda que ha no mundo?»
-És tu, respondia o espelho.»
No entanto Branca de Neve crescia, e de dia para dia se tornava mais formosa. Tinha apenas sete annos, e já ninguem a podia ver sem ficar maravilhado. Um dia a orgulhosa rainha, sentando-se diante do seu espelho, disse-lhe:
-Meu fiel espelho, responde-me: qual é a mulher mais linda que ha no mundo?»
-Não és tu, não és tu. Branca de Neve é mais linda.»
A estas palavras a orgulhosa rainha sentiu no coração uma dôr aguda, como uma punhalada, e ao mesmo tempo sentiu um odio mortal pela innocente Branca. Não podia socegar nem de dia, nem de noite. Para satisfazer o seu odio, chamou um creado, e disse-lhe:
-Quero quo Branca desappareça. Conduze-a á floresta, mata-a, e, para me provar que as minhas ordens foram executadas pontualmente, traze-me o coração.»
O creado levou Branca para o fundo da floresta, pegou n'uma faca, e dispunha-se a executar a ordem que recebera. A pobre creança chorava e lamentava-se, e pedia-lhe que a não matasse, porque ella não tinha feito mal a ninguem, e queria viver. O creado, commovido com aquellas lagrimas, não teve coragem, e abandonou-a na floresta, pensando que se as feras a devorassem a culpa não era d'elle, mas sim da rainha. Assim fez, e para mostrar o coração de Branca á rainha, matou um cabrito, e
tirou-lhe o coração. A rainha ao ver aquelles despojos sangrentos ficou
contentissima, e disse comsigo: Emfim, morreu a minha rival, e nenhuma
mulher no mundo é tão bella como eu.
A pobre Branca, abandonada na floresta, não tinha morrido, mas estava cheia de medo. Pela primeira vez na sua vida punha os pés nas pedras, e andava pelo meio do matto que lhe rasgava o vestido, e pela primeira vez tambem via animaes ferozes. Mas as feras não lhe faziam mal algum, o deixavam-n'a andar. No fim do dia tinha atravessado sete montanhas.
Á noite chegou ao pé d'uma casinha muito pequenina. Estava morta de fome e de sede. Entrou na casa, onde tudo estava muito arranjado e muito limpo. Havia uma meza pequena, e sobre a meza, coberta com uma toalha de brancura irreprehensivel, sete pratos pequenos, sete garrafas pequenas, e ao longo da parede sete camas muito pequeninas. Branca comeu um pouco do que estava nos pratos, bebeu uma gota de vinho de cada copo, deitou-se na cama, resou, e adormeceu profundamente.
Momentos depois os donos da casa entraram. Eram sete mineiros pequeninos, cada um com uma lanterna dependurada na cintura. Viram logo que tinham gente em casa. Um d'elles disse:
-Quem comeu o meu pão?»
E os outros successivamente:
-Quem pegou no meu garfo?»
-Quem comeu o meu caldo?»
-Quem bebeu o meu vinho?»
E emfim um d'elles:
-Quem está ahi deitado na minha cama?»
Reuniram-se todos á roda do pequeno leito em que dormia Branca. Á luz das lanternas viram o doce rosto da creança, que dormia tranquillamente, e affastaram-se sem fazer bulha, para a não accordar. Branca no dia seguinte de manhã ficou um pouco assustada, quando viu perto de si aquelles sete anões das montanhas. Mas elles disseram-lhe com brandura, que não tivesse medo, e perguntaram-lhe d'onde vinha, e como se chamava.
Branca contou a sua triste historia, e os anões disseram-lhe:
-Queres tu ficar comnosco, para tomar conta da nossa casa?»
-Da melhor vontade, respondeu Branca, completamente socegada.»
Começou logo o seu serviço, e continuou-o regularmente todos os dias. Limpava os moveis, e fazia o jantar. Os anões iam trabalhar para as minas d'ouro e de diamantes, e quando voltavam achavam tudo em ordem.
Durante esse tempo a rainha andava satisfeita, quando pensava que já não tinha que receiar uma rival. Sentou-se outra vez diante do seu espelho, e disse-lhe:
-Meu fiel espelho, não é verdade que eu sou agora a mulher mais linda que ha no mundo?» E o espelho respondeu:
-Sim, nos teus palacios e nos teus castellos, mas Branca está nas sete montanhas, e Branca é mais linda do que tu.»
Ouvindo esta resposta a orgulhosa rainha, sentiu de novo um golpe cruel, e eterminou tornar a fazer desapparecer a innocente Branca. Mas de que modo? Uma manhã partiu desfarçada em vendedeira ambulante, com um cesto cheio d'objectos de phantasia. Foi direita às sete montanhas, e bateu à porta da casinha, gritando: «Quem quer comprar bonitas joias?»
Os anões tinham recommendado a Branca que desconfiasse das caras estranhas, receando os emissarios da rainha, e ella tinha promettido ser prudente. Mas, quando viu as lindas cousas que a vendedeira tinha no cesto, esqueceu-se das suas promessas.
-Veja esta rica fita para amarrar seu corpete**, minha menina, eu mesmo lh'a vou por na cintura.»
Branca consentiu, e a rainha apertou tanto a fita que a sufocou, e foi-se embora. Quando os anões voltaram, viram a infeliz Branca estendida no chão e completamente inanimada. Arrancaram-lhe a fita, e deitaram-lhe nos labios algumas gotas d'um licor amarello. Branca começou a respirar, voltou a si pouco a pouco, e contou aos seus bons amigos o que lhe tinha acontecido.
-Pódes estar certa, disseram-lhe elles, que essa vendedeira não era outra pessoa, senão a tua inimiga, a rainha. Toma cautella, não deixes entrar aqui ninguem, quando não estivermos em casa.»
Ao entrar no seu palacio toda contente, collocou-se a rainha diante do espelho, e disse-lhe:
-Meu fiel espelho: Qual é agora a mulher mais linda que ha no mundo? Responde.
E o espelho respondeu:
-És tu nos teus grandes palacios e nos teus castellos, mas Branca está nas sete montanhas, e Branca é mais linda do que tu.»
A rainha enfureceu-se, e resolveu mais uma vez tentar aniquilar a infeliz Branca. Tornou-se a disfarçar em vendedeira. Chegou às sete montanhas, e bateu á porta da cabana.
-Quem quer comprar lindas joias? Branca veiu á janella, e respondeu:
-Vá-se embora, aqui não entra ninguem.»
-Tanto peor para si, respondeu a malvada, olhe este pente d'ouro. Já
viu outro tão bonito?»
Branca não poude resistir ao desejo de possuir aquella joia. Abriu a porta.
-Oh! minha linda menina, deixe-me pôr-lh'o na cabeça.»
Ao dizer isto enterrou-lhe na cabeça o pente, que estava envenenado, e Branca caiu morta.
Á noite quando regressaram os anões, acharam-n'a pallida e fria. Tiraram-lhe o pente envenenado, reanimaram-n'a com a sua bebida, e tornaram a recommendar-lhe que fosse prudente.
No entanto a cruel rainha voltava contentissima para o seu palacio. Apenas chegou, foi direita ao espelho, e fez-lhe a mesma pergunta, a que o espelho respondeu como antecedentemente.
-Ah! é preciso que ella morra, ainda que para isso eu tenha de me
sacrificar.
Vestiu-se de camponeza com um cesto de maçãs. Entre ellas havia uma que estava envenenada d'um lado. Foi, e bateu á porta da cabana.»
-Quem quer comprar fructa, quem quer comprar?»
-Retire-se, disse Branca vendo-a pela janella, não deixo entrar ninguem, nem compro coisa alguma.»
-Está bem, não faltará quem compre estas ricas maçãs. Mas por ser tão bonita, quero dar-lhe uma.»
-Obrigada, não posso acceitar.»
-Imagina que está envenenada. Olhe, eu vou comer um pedaço. Ah! que boa que é! Nunca provei nada assim. Ao pronunciar estas palavras, a traidora mordia no lado da maçã, que não estava envenenado. Branca deixou-se tentar, levou á boca o outro pedaço, e caiu fulminada.
-Ahi tens, para castigo da tua formosura.» Quando chegou ao palacio a rainha foi direita ao espelho, e perguntou-lhe:
-Meu fiel espelho, quem é agora a mulher mais linda?» E o espelho respondeu:
-És tu, és tu.»
-Até que emfim!»
Os anões estavam inconsolaveis. Debalde tinham tentado reanima-la com o licor d'ouro, e com outras bebidas ainda mais fortes. Branca continuava fria e inanimada. Choraram por ella durante tres dias, e os passarinhos da floresta choraram tambem. No entanto as boas avesinhas não podiam acreditar que ella estivesse morta, e vendo o seu rosto tão tranquillo, as suas faces tão frescas, parecia que estava a dormir. Não quizeram enterral-a. Metteram-n'a n'um caixão de cristal, e escreveram em cima.
«Aqui jaz a filha d'um rei;» puzeram o caixão n'uma das sete montanhas,e um d'elles devia estar de guarda constantemente. Branca conservou-se assim durante muitos annos, sem que se notasse no seu rosto a mais pequena alteração.
Um dia um formoso rapaz, filho d'um rei, tendo-se perdido ao andar à caça, viu o caixão, e pediu aos anões que lh'o cedessem, fosse por preço que fosse.
-Somos muito ricos, e por nada d'este mundo venderemos este caixão, que é o nosso thesouro.»
-Então dêem-m'o, já não posso viver sem contemplar este rosto de mulher. Guardal-o-hei na melhor salla do meu palacio. Peço-lhes que me façam isto.»
Os anões, commovidos, consentiram. Quatro homens pegaram no caixão para o levarem. Um d'elles tropeçou n'uma raiz, e o caixão soffreu um balanço, que fez cair o bocado da maçã envenenada, que Branca não tinha engulido, e que lhe ficara na boca. Abriu logo os olhos, e resuscitou. O joven principe levou-a para o seu castello, e casou com ella. O casamento fez-se com grande pompa. O principe convidou todos os reis e
rainhas dos differentes paizes, e entre ellas a rainha inimiga de Branca. Apenas acabou de vestir um rico vestido, que devia attrair todos os olhares, poz-se diante do espelho, e disse a rainha:
-Meu fiel espelho, qual a mulher mais linda que ha do mundo?»
E o espelho respondeu:
-Branca é mais formosa que tu.
A estas palavras a rainha estremeceu, e teve tal medo que os seus crimes fossem descobertos, que morreu de repente.
Branca viveu muitos annos, adorada de todos, e no seu palacio de princesa não se esqueceu dos anões que tinham sido os seus bemfeitores.

* No original de Guerra Junqueiro, aparece como sendo o bastidor de bordado de ébano.Adaptei segundo os Irmãos Grimmm, colocando como moldura de ébano da janela.
** No original de Guerra Junqueiro, aparece como sendo um colar que estrangula branca de Neve.Adaptei segundo versão dos Irmãos Grimm, colocando como uma fita para amarrar seu corpete, que de tão apertada, a sufoca.

Versão em Inglês do site:
http://www.scils.rutgers.edu/~kvander/snowwhitetext.html (ótimo site de consulta sobre a estória da Branca de Neve!)

LITTLE SNOW WHITE
Grimm's Fairy Tales. Translated by L.L. Weedon. Illus. by Ada Dennis and E. Stuart Hardy and Others. London: Ernest Nister, [1898], pp. 9-20.
Long, long ago, in the winter-time, when the snowflakes were falling like little white feathers from the sky, a beautiful Queen sat beside her window, which was framed in black ebony, and stitched. As she worked, she looked sometimes at the falling snow, and so it happened that she pricked her finger with her needle, so that three drops of blood fell upon the snow. How pretty the red blood looked upon the dazzling white! The Queen said to herself as she saw it, "Ah me! If only I had a dear little child as white as the snow, as rosy as the blood, and with hair as black as the ebony window-frame."

Soon afterwards a little daughter came to her, who was white as snow, rosy as the blood, and whose hair was as black as ebony--so she was called "Little Snow-White."

But alas! When the little one came, the good Queen dies.

A year passed away, and the King took another wife. She was very beautiful, but so proud and haughty that she could not bear to be surpassed in beauty by anyone. She possessed a wonderful mirror which could answer her when she stood before it and said-

"Mirror, mirror upon the wall, Who is the fairest of all?"
The mirror answered-

"Thou, O Queen, art the fairest of all,"
and the Queen was contented, because she knew the mirror could speak nothing but the truth.

But as time passed on, Little Snow-White grew more and more beautiful, until when she was seven years old, she was as lovely as the bright day, and still more lovely than the Queen herself, so that when the lady one day asked her mirror-

"Mirror, mirror upon the wall, Who is the fairest fair of all?"
it answered-
"O Lady Queen, though fair ye be, Snow-White is fairer far to see."
The Queen was horrified, and from that moment envy and pride grew in her heart like rank weeds, until one day she called a huntsman and said "Take the child away into the woods and kill her, for I can no longer bear the sight of her. And when you return bring with you her heart, that I may know you have obeyed my will."

The huntsman dared not disobey, so he led Snow-White out into the woods and placed an arrow in his bow to pierce her innocent heart, but the little maid begged him to spare her life, and the child's beauty touched his heart with pity, so that he bade her run away.

Then as a young wild boar came rushing by, he killed it, took out its heart, and carried it home to the Queen.

Poor little Snow-White was now all alone in the wild wood, and so frightened was she that she trembled at every leaf that rustled. So she began to run, and ran on and on until she came to a little house, where she went in to rest.

In the little house everything she saw was tiny, but more dainty and clean than words can tell.

Upon a white-covered table stood seven little plates and upon each plate lay a little spoon, besides which there were seven knives and forks and seven little goblets. Against the wall, and side by side, stood seven little beds covered with snow-white sheets.

Snow-White was so hungry and thirsty that she took a little food from each of the seven plates, and drank a few drops of wine from each goblet, for she did not wish to take everything away from one. Then, because she was so tired, she crept into one bed after the other, seeking for rest, but one was too long, another too short, and so on, until she came to the seventh, which suited her exactly; so she said her prayers and soon fell fast asleep.

When night fell the masters of the little house came home. They were seven dwarfs, who worked with a pick-axe and spade, searching for cooper and gold in the heart of the mountains.

They lit their seven candles and then saw that someone had been to visit them. The first said, "Who has been sitting on my chair?"

The second said, "Who has been eating from my plate?"

The third, "Who has taken a piece of my bread?"

The fourth, "Who has taken some of my vegetables?"

The fifth, "Who has been using my fork?"

The sixth, "Who has been cutting with my knife?"

The seventh, "Who has been drinking out of my goblet?"

The first looked round and saw that his bed was rumpled, so he said, "Who has been getting into my bed?"

Then the others looked round and each one cried, "Someone has been on my bed too?"

But the seventh saw little Snow-White lying asleep in his bed, and called the others to come and look at her; and they cried aloud with surprise, and fetched their seven little candles, so that they might see her the better, and they were so pleased with her beauty that they let her sleep on all night.

When the sun rose Snow-White awoke, and, oh! How frightened she was when she saw the seven little dwarfs. But they were very friendly, and asked what her name was. "My name is Snow-White," she answered.

"And how did you come to get into our house?" questioned the dwarfs.

Then she told them how her cruel step-mother had intended her to be killed, but how the huntsman had spared her life and she had run on until she reached the little house. And the dwarfs said, "If you will take care of our house, cook for us, and make the beds, wash, mend, and knit, and keep everything neat and clean, then you may stay with us altogether and you shall want for nothing."

"With all my heart," answered Snow-White; and so she stayed.

She kept the house neat and clean for the dwarfs, who went off early in the morning to search for copper and gold in the mountains, and who expected their meal to be standing ready for them when they returned at night.

All day long Snow-White was alone, and the good little dwarfs warned her to be careful to let no one into the house. "For," said they, "your step-mother will soon discover that you are living here."

The Queen, believing, of course, that Snow-White was dead, and that therefore she was again the most beautiful lady in the land, went to her mirror, and said-

"Mirror, mirror upon the wall, Who is the fairest fair of all?"
Then the mirror answered-

"O Lady Queen, though fair ye be, Snow-White is fairer far to see. Over the hills and far away, She dwells with seven dwarfs to-day."
How angry she was, for she knew that the mirror spoke the truth, and that the huntsman must have deceived her. She thought and thought how she might kill Snow-White, for she knew she would have neither rest nor peace until she really was the most beautiful lady in the land. At length she decided what to do. She painted her face and dressed herself like an old pedlar-woman, so that no one could recognize her, and in this disguise she climbed the seven mountains that lay between her and the dwarfs' house, and knocked at their door and cried, "Good wares to sell-very cheap to-day!"

Snow-White peeped from the window and said, "Good day, good-wife, and what are your wares?"

"All sorts of pretty things, my dear," answered the woman. "Silken laces of every colour," and she held up a bright-coloured one, made of plaited silks.

"Surely I might let this honest old woman come in?" thought Snow-White, and unbolted the door and bought the pretty lace.

"Dear, dear, what a figure you are, child," said the old woman; "come, let me lace you properly for once."

Snow-White had no suspicious thoughts, so she placed herself in front of the old woman that she might fasten her dress with the new silk lace. But in less than no time the wicked creature had laced her so tightly that she could not breathe, but fell down upon the ground as though she were dead. "Now," said the Queen, "I am once more the most beautiful lady in the land," and she went away.

When the dwarfs came home they were very grieved to find their dear little Snow-White lying upon the ground as though she were dead. They lifted her gently and, seeing that she was too tightly laced, they cut the silken cord, when she drew a long breath and then gradually came back to life.

When the dwarfs heard all that had happened they said, "The pedlar-woman was certainly the wicked Queen. Now, take care in future that you open the door to none when we are not with you."

The wicked Queen had no sooner reached home than she went to her mirror, and said-

"Mirror, mirror upon the wall, Who is the fairest fair of all?"
And the mirror answered as before-

"O Lady Queen, though fair ye be, Snow-White is fairer far to see. Over the hills and far away, She dwells with seven dwarfs to-day."
The blood rushed to her face as she heard these words, for she knew that Snow-White must have come to life again.

"But I will manage to put an end to her yet," she said, and then, by means of her magic, she made a poisonous comb.

Again she disguised herself, climbed the seven mountains, and knocked at the door of the seven dwarfs' cottage, crying, "Good wares to sell-very cheap today!"

Snow-White looked out of the window and said, "Go away, good woman, for I dare not let you in."

Surely you can look at my goods," answered the woman, and held up the poisonous comb, which pleased Snow-White so well that she opened the door and bought it.

"Come, let me comb your hair in the newest way," said the woman, and the poor unsuspicious child let her have her way, but no sooner did the comb touch her hair than the poison began to work, and she fell fainting to the ground.

"There, you model of beauty," said the wicked woman, as she went away, "you are done for at last!"

But fortunately it was almost time for the dwarfs to come home, and as soon as they came in and found Snow-White lying upon the ground they guessed that her wicked step-mother had been there again, and set to work to find out what was wrong.

They soon saw the poisonous comb, and drew it out, and almost immediately Snow-White began to recover, and told them what had happened.

Once more they warned her to be on her guard, and to open the door to no one.

When the Queen reached home, she went straight to the mirror and said--

"Mirror, mirror on the wall, Who is the fairest fair of all?"
And the mirror answered-

"O Lady Queen, though fair ye be, Snow-White is fairer far to see. Over the hills and far away, She dwells with seven dwarfs to-day."
When the Queen heard these words she shook with rage. "Snow-White shall die," she cried, "even if it costs me my own life to manage it."

She went into a secret chamber, where no one else ever entered, and there she made a poisonous apple, and then she painted her face and disguised herself as a peasant woman, and climbed the seven mountains and went to the dwarfs' house.

She knocked at the door. Snow-White put her head out of the window, and said, "I must not let anyone in; the seven dwarfs have forbidden me to do so."

"It's all the same to me," answered the peasant woman; "I shall soon get rid of these fine apples. But before I go I'll make you a present of one."

"Oh! No," said Snow-White, "for I must not take it."

"Surely you are not afraid of poison?" said the woman. "See, I will cut one in two: the rosy cheek you shall take, and the white cheek I will eat myself."

Now, the apple had been so cleverly made that only the rose-cheeked side contained the poison. Snow-White longed for the delicious-looking fruit, and when she saw that the woman ate half of it, she thought there could be no danger, and stretched out her hand and took the other part. But no sooner had she tasted it than she fell down dead.

The wicked Queen laughed aloud with joy as she gazed at her. "White as snow, red as blood, black as ebony," she said, "this time the dwarfs cannot awaken you."

And she went straight home and asked her mirror--

"Mirror, mirror upon the wall, Who is the fairest fair of all?"
And at length it answered--

"Thou, O Queen, art fairest of all!"
So her envious heart had peace-at least, so much peace as an envious heart can have.

When the little dwarfs came home at night they found Snow-White lying upon the ground. No breath came from her parted lips, for she was dead. They lifted her tenderly and sought for some poisonous object which might have caused the mischief, unlaced her frock, combed her hair, and washed her with wine and water, but all in vain-dead she was and dead she remained. They laid her upon a bier, and all seven of them sat round about it, and wept as though their hearts would break, for three whole days.

When the time came that she should be laid in the ground they could not bear to part from her. Her pretty cheeks were still rosy red, and she looked just as though she were still living.

"We cannot hide her away in the dark earth," said the dwarfs, and so they made a transparent coffin of shining glass, and laid her in it, and wrote her name upon it in letters of gold; also they wrote that she was a King's daughter. Then they placed the coffin upon the mountain-top, and took it in turns to watch beside it. And all the animals came and wept for Snow-White, first an owl, then a raven, and then a little dove.

For a long, long time little Snow-White lay in the coffin, but her form did not wither; she only looked as though she slept, for she was still as white as snow, as red as blood, and as black as ebony.

It chanced that a King's son came into the wood, and went to the dwarfs' house, meaning to spend the night there. He saw the coffin upon the mountain-top, with little Snow-White lying within it, and he read the words that were written upon it in letters of gold.

And he said to the dwarfs, "If you will but let me have the coffin, you may ask of me what you will, and I will give it to you."

But the dwarfs answered, "We would not sell it for all the gold in the world."

Then said the Prince, "Let me have it as a gift, I pray you, for I cannot live without seeing little Snow-White, and I will prize your gift as the dearest of my possessions."

The good little dwarfs pitied him when they heard these words, and so gave him the coffin. The King's son then bade his servants place it upon their shoulders and carry it away, but as they went they stumbled over the stump of a tree, and the violent shaking shook the piece of poisonous apple which had lodged in Snow-White's throat out again, so that she opened her eyes, raised the lid of the coffin, and sat up, alive once more.

"Where am I?" she cried, and the happy Prince answered, "Thou art with me, dearest."

Then he told her all that had happened, and how he loved her better than the whole world, and begged her to go with him to his father's palace and be his wife. Snow-White consented, and went with him, and the wedding was celebrated with great splendour and magnificence.

Little Snow-White's wicked step-mother was bidden to the feast, and when she had arrayed herself in her most beautiful garments, she stood before her mirror, and said--

"Mirror, mirror upon the wall, Who is the fairest fair of all?"
And the mirror answered--

"O Lady Queen, though fair ye be, The young Queen is fairer to see."
Oh! How angry the wicked woman was then, and so terrified, too, that she scarcely knew what to do. At first she thought she would not go to the wedding at all, but then she felt that she could not rest until she had seen the young Queen. No sooner did she enter the palace than she recognized little Snow-White, and could not move for terror.

Then a pair of red-hot iron shoes was brought into the room with tongs and set before her, and these she was forced to put on and to dance in them until she could dance no longer, but fell down dead, and that was the end of her.


THE END